Phillip Dennis Ivey Jr., mais conhecido como Phil Ivey , é uma lenda viva no mundo do poker. Dono de 11 braceletes da World Series of Poker (WSOP) e presença constante nas mesas mais caras do planeta, Ivey construiu uma carreira singular. De suas origens humildes jogando em Atlantic City  sob o codinome “No Home Jerome” até a consagração no Hall da Fama do Poker, sua trajetória é marcada por talento precoce, conquistas históricas, duelos memoráveis nos high stakes e até polêmicas fora dos feltros. Não à toa, ele é frequentemente citado por colegas e especialistas como o maior jogador de poker depois do título de Chris Moneymaker em 2003, que marcou o “Boom do poker moderno”.

“No Home Jerome”

Nascido na Califórnia e criado em Nova Jersey , Phil Ivey aprendeu a jogar poker ainda criança, ensinado pelo avô quando tinha cerca de oito anos de idade. Na adolescência, já mostrava talento incomum: por volta dos 16 anos, trabalhando como operador de telemarketing, ele participava de home games com amigos e logo buscou desafios maiores em Atlantic City. Como era menor de 21 anos – idade legal para frequentar cassinos nos EUA –, Ivey conseguiu uma identidade falsa com o nome “Jerome” para poder jogar no famoso cassino Taj Mahal. Ali, passou a disputar partidas de Seven-Card Stud contra veteranos, a acumular experiência e ganhos modestos.

A frequência com que Ivey passava noites e mais noites no cassino fez surgir o célebre apelido “No Home Jerome”. “Jerome” era o nome em seu documento falso, e “No Home” (sem casa) referia-se ao fato de ele praticamente não sair do cassino – jogando sessões intermináveis e às vezes ficando dias seguidos sem dormir. Essa rotina impressionou os jogadores mais antigos, que passaram a enxergar naquele jovem determinado um prodígio em ascensão.

À esquerda: Ivey e sua mãe; à direita: com seu avô e principal inspiração no poker.

Títulos e conquistas nos torneios

A primeira aparição de destaque de Phil Ivey no circuito profissional ocorreu em 2000, quando conquistou seu primeiro bracelete da WSOP. Ali, com 23 anos, ele venceu o evento de Pot-Limit Omaha de US$ 2.500, derrotando no heads-up ninguém menos que a lenda Amarillo Slim , em uma mesa final que ainda teve outros jogadores lendários, como Phil Hellmuth e Dave Ulliott . Pouco depois, em 2002, Ivey impressionou o mundo ao ganhar três braceletes da WSOP em um único verão – um feito raríssimo, alcançado por pouquíssimos jogadores na história. Esse desempenho excepcional lhe rendeu o apelido de “The Phenom” (“O Fenômeno”) pela mídia especializada.

Ao longo da carreira, Ivey acumulou um total de 11 braceletes da WSOP – marca que o coloca atrás apenas de Hellmuth, e à frente Doyle Brunson , Johnny Chan e Erik Seidel , que possuem 10 cada. Ele mostrou versatilidade ao conquistar títulos em seis modalidades diferentes de poker. Em 2009, Ivey alcançou a mesa final do Main Event da WSOP, terminando na 7ª colocação.

Além dos triunfos na World Series, Ivey brilhou também em outros palcos do poker. No World Poker Tour (WPT), ele chegou a nove mesas finais e sagrou-se campeão do LA Poker Classic em 2008, faturando um prêmio de US$ 1,6 milhão. Até abril de 2025, somando todas as premiações em torneios ao vivo, Ivey acumulava cerca de US$ 48,6 milhões, o sexto que na All Time Money List de MTTs.

Phil Ivey venceu o WPT em 2008 (Foto: Card Player)

Jogando os maiores limites, online e ao vivo

Fora dos torneios, Phil Ivey também construiu uma fama de jogador implacável nas mesas de cash game high stakes. Na primeira década dos anos 2000, ele era amplamente considerado o melhor jogador de poker do mundo, o “último chefe do poker online”, a ponto de muitos adversários evitarem enfrentá-lo em qualquer modalidade. No poker online, especialmente nas mesas do extinto site Full Tilt Poker, Ivey reinou absoluto: acumulou quase US$ 20 milhões de lucro nos chamados jogos “nosebleeds” – os limites mais altos do online. Não foram raros os duelos de Ivey contra outros astros do poker digital, como Tom “durrrr” Dwan e Patrik Antonius , com potes chegando à casa de quase sete dígitos.

Além disso, nos cash games ao vivo, Ivey também protagonizou capítulos lendários. Um confronto, em particular, entrou para a história: em 2004, integrando o grupo de elite conhecido como “The Corporation”, Ivey enfrentou o bilionário texano Andy Beal em partidas de heads-up com blinds estratosféricos de US$ 50.000/US$ 100.000. O banqueiro chegou a estar com uma vantagem de aproximadamente US$ 10 milhões contra o time de profissionais, mas quando Ivey entrou em ação, virou o duelo completamente – ao fim de dois dias, derrotou Beal e lucrou cerca de US$ 16 milhões. A façanha, retratada no livro The Professor, the Banker and the Suicide King, reforçou ainda mais a poderosa aura de Ivey nos high stakes.

Phil Ivey era um verdadeiro grinder do poker online.

Polêmica no baccarat e disputa judicial

Mas nem tudo na trajetória de Ivey se resume a vitórias nas mesas. Em 2012, ele se envolveu em uma grande controvérsia ao ganhar £7,3 milhões jogando baccarat no cassino Crockfords, em Londres . Dois anos depois, em 2014, conseguiu mais US$ 10 milhões em uma sessão de baccarat no Borgata, em Atlantic City. Posteriormente, descobriu-se que Ivey utilizara nessas ocasiões uma técnica chamada edge sorting, na qual o jogador explora pequenas falhas no verso das cartas para obter vantagem. Ivey alegou que apenas usou informações disponíveis e que não trapaceou, mas os dois cassinos discordaram da sua interpretação.

O caso foi parar nos tribunais. O Crockfords recusou-se a pagar o montante ganho, enquanto o Borgata processou o jogador para reaver os valores pagos. Após anos de batalha judicial, Ivey acabou perdendo as disputas. Ele não conseguiu receber o prêmio de Londres e foi condenado a ressarcir o Borgata, chegando a ter parte de seus ganhos no poker confiscados. Em 2020, as partes fecharam um acordo confidencial que encerrou o litígio. A polêmica não manchou sua imagem fora do poker, até porque as pessoas ficaram contra os cassinos. 

Hall da Fama do Poker

Com um currículo tão vitorioso, era questão de tempo até que Phil Ivey recebesse a maior honraria do jogo. Em 2017, ao completar 40 anos de idade – requisito mínimo para elegibilidade –, ele foi eleito para o Hall da Fama do Poker, juntando-se a nomes históricos como Doyle Brunson, Daniel Negreanu e Chip Reese na galeria das lendas.

Na cerimônia de indução, Ivey declarou: “Eu amo o poker e tudo que este jogo já fez por mim. Sou uma pessoa muito sortuda por poder viver de um jogo que sempre foi a minha paixão.”

Reputação e legado

Dentro da comunidade do poker, Phil Ivey é respeitado como um gênio silencioso. Colegas de mesa o reverenciam como o melhor jogador que já enfrentaram e frequentemente o apontam como o jogador mais completo de sua geração. 

Do mesmo modo, Ivey sempre impôs uma presença intimidadora nas mesas – sua tranquilidade sob pressão e expressão impassível frequentemente leva até os adversários mais experientes a cometer erros. Não é por acaso que profissionais consagrados o têm como referência. Para muitos, Ivey elevou o patamar do poker profissional e inspirou uma geração de novos jogadores.

Por fim, após mais de duas décadas no topo, Phil Ivey decidiu se dedicar à família, mas segue sendo lembrado como um dos gigantes do jogo. Mesmo nas poucas aparições atuais, sua presença ainda provoca respeito e fascínio. Ele é admirado por rivais, fãs e pela indústria como um todo – e permanece eternizado como uma verdadeira lenda do poker.

Em 2024, Phil Ivey ganhou seu último bracelete, o de número 11.

Braceletes da WSOP

*Bracelete conquistado na World Series of Poker Asia Pacific (APAC).