Inicio > Discreto, mas implacável: conheça Pedro Garagnani, campeão na Powerfest e #4 do Mundo

Se você é um regular de high stakes nas mesas do partypoker, o nome ‘veegar’ não lhe é nada estranho. Nem o nick, nem o homem por trás da conta. Pedro Garagnani [flag country=»br»] –, que também atua em outras salas sob o nick de ‘pvigar’ – é amplamente reconhecido no meio como um dos ‘sharks’ mais temidos do poker online internacional.

SUCESSO E RECONHECIMENTO SIM, ESTRELISMO NÃO

A conquista na Powerfest é mais uma em uma carreira consistente deste curitibano de 28 anos, que começou no poker aos 19, em 2011, e atualmente ocupa a quarta colocação no ranking mundial Pocketfives.

Quem é do meio conhece, respeita Pedro Garagnani e provavelmente teme tê-lo ao lado em uma mesa. Mas, se você não é profissional ou fã imerso no universo dos torneios mais caros, talvez ainda não conheça a fundo nosso personagem de hoje.

veegar’ é daquelas figuras que brotam nos high stakes. Embora talentoso, implacável e vencedor, não é uma estrela. Seus seguidores são poucos em comparação com seus resultados: no Twitter – rede social da qual não é muito assíduo – são apenas 30; no Instagram bem mais, 960, mas ainda pouco perto dos jogadores mais midiáticos do país.

Em uma sociedade que muitas vezes se engana e mede o sucesso por exposição social, o número de seguidores não impressiona. Mas Pedro não poderia ligar menos. Atualmente, ele não quer vender curso, virar coach, montar time (teve por cinco anos uma equipe em parceria com André Busato, já encerrada), nem vender cotas.

“Eu sempre foquei em apenas ser um jogador de poker. Não há necessidade para mim de ser ultra conhecido, ser «famoso» não vai me fazer bater os jogos mais difíceis», diz o grinder.

Seu foco é apenas o jogo: estudar, melhorar e resolver bilhões de dilemas que uma mão de poker pode apresentar.

“Há muito pouco interesse do topo de compartilhar segredos e métodos de jogo com todo mundo, meio que como no mercado financeiro”, continua Pedro. “Os que mais ganham dinheiro nunca vão explicar de fato como o fazem”.

«NÃO TEM SEGREDO»

Pedro Garagnani não nos contou o segredo infalível do sucesso. Até porque a fórmula mágica sequer existe, como ele mesmo diz: “não tem segredo. Muita gente chega no meio do poker buscando uma maneira fácil de ganhar dinheiro”.

Mas o craque disse mais sobre sua trajetória do que você provavelmente descobriria em outro blog. Falou sobre como sua formação como engenheiro de computação lhe serviu para moldar seu jogo – de estilo matemático – por meio de softwares como SNGwizard, depois ICMizer, equilab e Flopzilla; e também de como foi influenciado por grandes figuras do poker paranaense, como Alex Gelinski, os irmãos Dzivielevski, Daniel Almeida, André Busato e Thiago Crema.

Confira, abaixo, a entrevista completa:

Qual a sua idade, origem e formação fora do poker?
Tenho 28 anos, nascido e criado em Curitiba. Sou técnico em informática e cursei 2 anos de engenharia de computação na UTFPR de 09-2011, a qual abandonei para jogar poker

Quando (com que idade) e como você começou a jogar?
Comecei a jogar acho que aos 19 anos no primeiro semestre da faculdade, um amigo estava jogando e ensinou as regras pra gente, aí comecei a jogar e fiquei obcecado bem cedo.

Lemos uns livros em galera, aí comecei a jogar sits (sit and gos), acabei jogando cash live por um ano e meio, morei em (Las) Vegas para jogar cash em 2013; voltei e comecei a jogar torneios online por recomendação do meu amigo Alex Gelinski.

Quem foram as pessoas que te influenciaram e fizeram a diferença para você chegar a esse ponto da sua carreira?
Devo muito à galera de Curitiba mesmo. Ao Andrey Luís, meu companheiro de casa e segundo coach; Ao Vitinho (Vitor Dzivielevski), que me conheceu na Liga Curitibana e me apresentou à galera do online lá em 2012, ao Felipe Balaban que me ensinou a não ser uma ‘galinha’ no live, ao Rodrigo Seiji, Paulo Santiago e Roberto Lessa que acabaram sendo meus companheiros de casa por muitos anos; ao André Busato que foi meu sócio e amigo em um projeto por quase 5 anos; ao Yuri Dzivielevski que sempre foi uma inspiração pra todo mundo no poker nacional, especialmente aqui em Curitiba; e a meu grande amigo Victor Begara, a quem devo muito de meu desenvolvimento dos últimos 3 anos, pela troca de conhecimento e estudos que fizemos. Ao Lipe Piv (Felipe Boianovsky) e Daniel Almeida, jogadores muito técnicos que moram em Curitiba.

Fale mais sobre esse projeto que durou cinco anos:
Tivemos um time chamado XXXX. Éramos nós dois e 3-7 jogadores jogando micro-mid stakes; foi algo bom para nosso desenvolvimento e dos jogadores, mas nosso objetivo no poker foi sempre mais voltado em sermos jogadores que cuidar do desenvolvimento de um time grande. Deixamos isso claro para todos os nossos jogadores e recentemente encerramos o time.

Que acontecimento na sua carreira você considera determinante para que esteja onde está hoje?
Não sei dizer qual acontecimento seja mais importante. Acredito que ter tido sucesso nos primeiros anos de jogo tenha me dado uma base financeira e emocional muito grande.

JOGO, TREINAMENTO, ROTINA E CARREIRA

Quais características – técnica ou mental – do seu jogo fazem com que você se destaque?
Eu sempre fui muito software-oriented, acredito que pela minha formação em informática. Sempre procurei fazer melhor uso das ferramentas que tinha disponíveis na época – começando com o SNGwizard, depois ICMizer, equilab, Flopzilla, até os mais modernos solvers, que na minha opinião são os responsáveis por tornar 99% dos jogadores que são vencedores hoje no que são. Isso unido com as muitas horas de jogo ao vivo que joguei creio que seja uma boa mescla entre teoria e exploitability.

Muitos querem saber quais os segredos de um jogador lucrativo e bem sucedido como você. Como funciona sua rotina de treinamento?
Não tem muito segredo. Muita gente chega no meio do poker buscando uma maneira fácil de ganhar dinheiro, ter bastante tempo livre e curtir. Mas no poker, assim como em qualquer outra área da vida, você precisa pôr as horas de trabalho.

A realidade é que a rotina do jogador de poker não tem muito glamour. A maioria dos melhores são meio nerds e workaholics, que acabam passando muito tempo jogando e estudando.

E isso é uma verdade meio chata. Se você não abrir o Pio e passar aquelas horas chatas tentando desvendar as estratégias no equilibro e arrumando uma forma de aplicar elas no mundo real, é muito improvável que você vá conseguir vencer num cenário tão competitivo que é o poker online.

Eu cuido bem da minha saúde, treino crossfit 4-5x por semana há 5 anos, e jogo 3-6x por semana desde sempre, estudando e aplicando quando sinto que estou a desejar em alguma área.

Preparação física, a base de crossfit, é parte da rotina de Pedro

Quais jogadores você considera os mais difíceis de enfrentar no poker online atualmente?
Sobre os jogadores mais difíceis de jogar contra hoje em dia, teria que citar muitos nomes aqui. Basicamente qualquer reg. que você encontre jogando nos eventos mais caros.

Alguns dos melhores jogadores do poker online do Brasil estão em Curitiba. Isso é coincidência é consequência de um meio criativo, em que os jogadores se ajudam?
É interessante mesmo como muitos dos melhores são daqui. Acho que tudo começou com os primeiros, que acabaram virando referência técnica e pessoal para todo mundo que veio depois: Vitinho (Dzivielevski) e Yuri Dzivielevski, Rodrigo Seiji, Santiga e Daniel Almeida

É um grupo que pensa bastante parecido tanto no jogo quanto na vida em geral, e acho que quando você é absorvido por um grupo desses você acaba desenvolvendo habilidades similares.

E uma coisa legal é que também somos uma comunidade muita unida, todo mundo é amigo de todo mundo. E isso acabou trazendo vários dos melhores pra cá também.

O (Thiago) Crema, o (Victor Bergara) Headão, o Piv ((Felipe Boianovsky)) e outros se mudaram pra cá nos últimos 3 anos.

«Se você tem tempo para editar um monte de vídeos e fazer posts e responder perguntas e etc. provavelmente poderia ter investido esse tempo em ser um jogador mais competente.

Pedro Garagnani

Muitos grandes jogadores, além de trabalharem apenas o jogo, tentam estabelecer uma marca e trabalhar a imagem para ganhar dinheiro de outras maneiras, você pensa nisso?
Autopromoção através de redes sociais e etc tem que ter um propósito. Se você quer ser conhecido e dedicar tempo para isso (e isso consome muito tempo e energia), provavelmente você vai querer monetizar isso de alguma forma. Alguns ficam conhecidos para vender cursos, outros se expõem por serem donos de times e precisarem de players ou por precisarem de investidores.

Eu sempre foquei em apenas ser um jogador de poker. Não há necessidade para mim de ser ultra conhecido, ser «famoso» não vai me fazer bater os jogos mais difíceis; na realidade vai contra isso: se você tem tempo para editar um monte de vídeos e fazer posts e responder perguntas e etc. provavelmente poderia ter investido esse tempo em ser um jogador mais competente.

Você está no top 5 do ranking mundial do poker online, mas não está entre os cinco jogadores mais midiáticos do Brasil. Você acha que os craques do online merecem mais espaço na mídia?

Há um conflito entre o poker «esporte» e o poker business. O objetivo da mídia do poker (assim como o de qualquer mídia) é de agregar valor ao seu próprio negócio. Por exemplo, o objetivo da mídia do partypoker é de disseminar conteúdo que vai atingir o maior número de pessoas e fazê-las jogar em sua plataforma; dessa maneira é muito mais interessante para o site promover pessoas que produzam conteúdo e o transmitam para o maior número de pessoas, como streamers ou content creators no Instagram e outras redes sociais.

Sendo assim, eu creio que não faz tanto sentido disponibilizar mais espaço para os craques do online se isso não for atrativo para o ecossistema do poker.

Além disso, há muito pouco interesse do topo de compartilhar seus segredos e métodos de jogo com todo mundo, meio que como no mercado financeiro. Os que mais ganham $ nunca vão explicar de fato como o fazem.

PARTYPOKER E POWERFEST

Que impacto você acha que o partypoker vem tendo na reta dos profissionais?
O partypoker atualmente concorre de igual pra igual com seus rivais em termos de volume highstakes (500+). Então há muito interesse do topo do field de bater esses torneios, especialmente na Powerfest, onde há torneios de 500 e 1kpagando até 50k 1st.

Sobre o torneio, que momento/mão você considerou mais importante ou inesquecível no torneio?
Sobre esse torneio em especial, houve um 3bet pote em que paguei, com Q9s do cutoff, as três streets, contra o rival no botão. O board veio Q839ccc e meu adversário apresentou K6s, na bolha da mesa final. Nessa mão virei chip leader e tudo ficou mais tranquilo.

DOWNSWING E PRESSÃO

Você vinha de uma sequência negativa no partypoker desde setembro de 2019. Mesmo sabendo que os downswings são normais, isso colocou alguma pressão em você?
O jogo high stakes no partypoker é muito duro, todos os melhores jogam lá. Meu ABI (Buy-in médio) sendo $500, é relativamente normal perder nessa amostra em que tive, de uns 500-600 torneios. É chato ficar perdendo por tanto tempo, mas pela análise que faço do meu jogo acredito que eu seja um jogador vencedor nos torneios que jogo. Foi muito satisfatório ter conseguido essa vitória lá, especialmente por estar perdendo sem parar (risos).

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