As luzes brilham sobre os finalistas da World Series of Poker. A torcida vibra, os flashes capturam emoções reais e os valores impressionam. Mas há uma parte do sucesso que nunca aparece nas câmeras: o staking na WSOP.

• Ver Também
  Kevin Li conquista o primeiro bracelete da WSOP 2025

Por trás de cada bracelete, cada mesa final ou deep run em Las Vegas, é comum existir um acordo financeiro entre o jogador e um ou mais investidores que bancaram o buy-in – ou parte dele – em troca de um percentual dos possíveis ganhos. Trata-se de um pacto baseado em confiança, números e risco compartilhado, que movimenta milhões a cada verão em Nevada.

Papo MC, campeão do Triton Million na WSOP Paradise nas Bahamas, vendeu 90% das suas ações para disputar o torneio.

O que é staking na WSOP e como funciona?

Staking é o apoio financeiro que um jogador recebe de um backer ou grupo de investidores para disputar um ou mais torneios. Em troca, o jogador cede uma parte dos ganhos líquidos, caso entre na premiação.

Exemplo clássico:

•  Buy-in: $10.000
• O Backer cobre 100%
• O jogador acorda entregar 60% do prêmio líquido
• Se ganhar US$100.000 → jogador recebe US$40.000/backer fica com US$60.000

Também existem os swaps: acordos entre jogadores que trocam percentuais de seus ganhos. Se dois profissionais entram em acordo sobre 10% e um deles ganha US$50.000, o outro recebe US$5.000 sem ter jogado aquele torneio. É uma forma de reduzir a variância e fortalecer laços na comunidade.

Por que o staking é tão comum na WSOP?

• Acesso financeiro: nem todos podem pagar torneios de US$ 10K, US$ 25K ou mais.
• Gestão de bankroll: até mesmo profissionais usam para proteger seu caixa.
• Rede de confiança: muitos acordos são feitos entre amigos, colegas, alunos e coaches — ou em comunidades online como Discords e stables.

Quais são os riscos? Apesar de ser útil, o staking pode gerar complicações:

• Falta de motivação: alguns jogadores se acomodam quando não têm dinheiro próprio envolvido.
• Pressão psicológica: sentir a responsabilidade de representar o dinheiro alheio pode afetar as decisões.
• Conflitos após a premiação: discussões sobre divisão, despesas, impostos ou mal-entendidos.

Muitos acordos são apenas verbais – sem contratos – o que pode virar uma bomba-relógio em caso de disputa.

Casos reais: quando o staking é público

Apesar de geralmente ocorrer em silêncio, alguns jogadores já falaram abertamente sobre staking. Veja alguns exemplos:

Alex Foxen y Kristen Foxen

O casal já revelou ter feito swaps e stakeado um ao outro, especialmente em High Rollers da GGPoker e durante a WSOP. O sucesso compartilhado vai além do casamento – também é financeiro.

Shaun Deeb

Em 2023, ele revelou ter stakeado vários jogadores, inclusive em eventos com buy-in baixo e médio. Deeb também costuma vender pacotes de ações quando planeja jogar muitos torneios. Para ele, poker é volume e investimento.

Patrick Leonard

Um dos maiores nomes do poker online, já atuou como backer e recebeu staking ao longo dos anos. Em 2024, compartilhou no Twitter como estrutura seus swaps e pacotes para séries como o WCOOP e a WSOP. Para Pads, staking é parte de sua filosofia profissional.

Histórias que ninguém conta

O jogador que leva a glória nem sempre leva o dinheiro. Muitos campeões já confessaram ter vendido boa parte da própria ação antes de jogar.

Em 2019, o argentino Damián Salas chegou ao heads-up do Main Event na edição internacional. Dias depois, descobriu-se que ele havia vendido grande parte de sua participação em plataformas privadas. A história foi dele, mas os lucros foram divididos.

E ele não foi o único. Em sites como StakeKings, YouStake ou em grupos fechados, dezenas de jogadores – de amadores a high rollers – vendem suas ações de forma pública ou privada. Todos usam o staking para sobreviver – e brilhar – no ambiente mais competitivo do poker mundial.