Inicio > “Não precisamos de Rounders 2”: a dura sentença sobre a indústria do poker

Há quem diga que a indústria do poker está estagnada. Depois de conquistar milhões de novos adeptos no início do século, parece que os criadores de conteúdo já não atraem mais novos jogadores. O público do poker tem encolhido, e embora o jogo ofereça grandes emoções, parece não emocionar o público em geral.

Nesse contexto, o CEO da produtora Artisans on Fire, Dustin Iannotti Flag of Estados Unidos, escreveu uma forte reflexão sobre o tema, instando criadores de conteúdo e produtores a buscarem novas formas de atrair audiência.

Daniel Negreanu Flag of Canadá compartilhou o post de Iannotti, comentando: “Ótima leitura sobre o estado atual da produção de conteúdo de poker. Vocês concordam? Acho que ele levanta muitos pontos válidos, com os quais eu concordo. Se você não se importa com os personagens do que está assistindo, então aquilo não vai prender sua atenção – a não ser que você já faça parte do nicho.”

Tradução completa do post de Iannotti:

Estou prestes a alienar toda a indústria do poker com o que estou prestes a dizer. Mas alguém precisa apontar que temos contado a história errada há 20 anos. A evidência é inegável. A solução é desconfortável. A indústria de conteúdo de poker está criativamente falida, e estou cansado de fingir que não é verdade.

Enquanto outros jogos transformam suas audiências de nicho em fenômenos globais, nós estamos reciclando fórmulas para o mesmo nicho de jogadores, que a cada dia diminui. A luta é roteirizada. O xadrez é silencioso. O golfe é lento. Ainda assim, os três têm produções na Netflix avaliadas em centenas de milhões. Já o poker, onde pessoas literalmente arriscam suas economias em batalhas psicológicas, mal consegue ultrapassar os 250 mil espectadores. Isso não deveria ser possível – mas é.

O Gambito da Rainha fez mais pessoas se interessarem por xadrez em oito semanas do que o poker conseguiu em oito anos. As vendas de tabuleiros cresceram mais de 1.000%, mais de cinco milhões de novos jogadores surgiram e os pedidos para escolas de xadrez dobraram. Tudo por causa de uma história ficcional sobre um jogo onde duas pessoas sentam-se em completo silêncio e ocasionalmente movem pequenas peças de madeira. Já nos esquecemos disso?

Vinte anos atrás, o poker explodiu por causa de uma história. Não por causa de uma mão. Um contador desconhecido, com um sobrenome perfeito… enfrentando um jogador cuja imagem está no dicionário ao lado do termo ‘jogador de poker’… um cigarro apagado pendendo da boca… o filho da mãe mais frio e durão, saído direto de um filme do Scorsese. E o azarão vence. Isso é storytelling. Isso foi o que cativou milhões. Depois disso, perdemos o rumo.

O poker entrou numa seca de uma década após o Black Friday. A cobertura televisiva diminuiu. Os sites online sumiram da noite para o dia. A indústria ficou em estado terminal. O que a salvou? Não foram os vídeos de estratégia. Não foram as mãos. Foram as personalidades. Histórias. Personagens. Influencers que entenderam que o poker sem pessoas não passa de matemática. Já estivemos aqui antes. Sabemos o que funciona. Mas estamos presos girando no mesmo lugar.

Enquanto os criadores de conteúdo de poker brincam de dança das cadeiras, reciclando os mesmos 250 mil espectadores de sempre, a Fórmula 1 transformou 20 milhões de espectadores casuais em fãs apaixonados. 99% do conteúdo de apostas é feito por 1% que já joga. Enquanto os sites brigam pelo mesmo grupo cada vez menor de jogadores, ignoram os potenciais 300 milhões de fãs famintos por um drama real com pessoas.

O que têm a Fórmula 1, o xadrez e a luta profissional que o poker não tem? Não são audiências maiores. Não é mais drama. É uma abordagem específica de storytelling que os criadores de conteúdo de poker evitam o tempo todo: eles se focam nas pessoas primeiro, e na atividade depois. Constroem personagens, não só campeões. Criam emoções, não apenas educação.

Enquanto isso, os sites de poker investem milhões em novas funcionalidades e melhorias técnicas, mas quase nada em conteúdo original e impactante. Preferem gastar US$ 3 milhões otimizando o lobby a gastar US$1 milhão numa história que pode atrair um milhão de novos jogadores. Métricas de curto prazo ao invés de visão de longo prazo. Conversões rápidas em vez de relevância cultural. Funções ao invés de sentimentos.

Todos criticam Daniel Negreanu Flag of Canadá e Phil Hellmuth Flag of Estados Unidos, mas eles estão na linha de frente, tentando coisas novas para fazer o jogo crescer. Me diga alguém que tenha feito mais para atrair novos fãs ao poker – estou esperando. Enquanto isso, nos convencemos de que uma stream de um mago matemático dando 3-bet com J7s é ‘conteúdo revolucionário’.

Mesmo os programas considerados padrão da indústria, como Hustler Casino Live e High Stakes Poker, cometem o mesmo erro fundamental. Selecionam mãos com base no tamanho do pote, em vez do valor narrativo. Os high stakes deveriam ser parte da narrativa, não a única narrativa. Precisamos ser a mudança que queremos ver no storytelling do poker.

Estou colocando esses princípios em prática no trabalho com o canal de Alan Keating Flag of Estados Unidos. Não é autopromoção – é para mostrar que é possível. Criamos arcos narrativos ao longo de várias mãos. Mostramos a guerra psicológica. Transformamos sessões de poker em experiências cinematográficas.

O futuro pertence aos contadores de histórias que entenderem que apostar alto é um contexto dramático – não um conteúdo interessante por si só. Estou cansado de ouvir: ‘Quando sai Rounders 2?’ Não precisamos de Rounders 2. Precisamos que criadores e empresários apaixonados por esse jogo incrível se unam para criar conteúdo que supere tudo que Rounders já alcançou. Precisamos mirar muito além da nostalgia reciclada. Precisamos criar novos clássicos.

Se tivermos sucesso, aqui está o que vai acontecer: o poker voltará a ser parte da cultura. Novos jogadores chegarão. Sites e cassinos buscarão sangue novo. Uma geração de contadores de histórias encontrará seu propósito. E se falharmos? Continuaremos o lento e desconfortável declínio. Continuaremos falando para a mesma audiência que só diminui. Viramos o xadrez antes de O Gambito da Rainha, um nicho para poucos.

E para os executivos que estão lendo isso, calculando o ROI: enquanto seus concorrentes correm atrás de microconversões, imagine ser dono da próxima sensação cultural. Imagine o novo momento “Drive to Survive” do poker. 20 milhões de novos fãs. 53% de aumento nas visualizações.

Passamos 20 anos mostrando cartas. Agora é hora de mostrar personagens. Passamos duas décadas explicando como jogar. Agora, precisamos mostrar por que as pessoas precisam assistir. O storytelling precisa finalmente estar à altura dos stakes. O conteúdo de poker precisa de uma nova narrativa. E eu pretendo escrevê-la. Este é um chamado à indústria inteira para que se una a mim. Desafiem a si mesmos. Desafiem o status quo. Precisamos nos mover na velocidade da atenção. Ou a atenção desaparecerá.

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