Inicio > De Hollywood para o poker: a dupla vida de Matt Salsberg

Matt Salsberg Flag of Estados Unidos não é um jogador de poker qualquer. Antes de acumular mais de US$ 3,6 milhões em prêmios, ganhar um título do WPT e chegar a várias mesas finais da WSOP, ele já havia vivido uma carreira estrelar em outro mundo igualmente competitivo: a indústria do entretenimento. Como roteirista e produtor de series como Weeds, Entourage, Kidding e The War at Home, Salsberg passou anos trabalhando com escritores, com os quais, sem saber, começou a treinar muitas das habilidades que hoje o definem como jogador.

No podcast 10 Minute Poker Tips, explicou como o trabalho criativo em Hollywood acabou sendo a melhor preparação para disputar uma mesa. “Era como pegar furos nas histórias”, comentou, fazendo referência às longas sessões de brainstorming nas quais tinha que analisar histórias, detectar inconsistências e ler a linguagem corporal dos seus colegas. Essa lógica narrativa, aliada a um alto nível de inteligência emocional, se transformou com os anos em uma ferramenta poderosa para ler mãos, identificar jogadas e detectar blefes.

Durante seus primeiros anos como jogador, entre 2003 e 2010, os resultados não o favoreciam. Ele se limitava a torneios de baixo buy-in onde, segundo ele, tudo era “poker de dados all-in”. Mas, quando começou a disputar eventos com estruturas melhores, como os Main Event do WPT ou da WSOP, seu foco lógico e paciente começou a render frutos. “Ali você já não está à mercê das cartas. O jogo pós-flop pesa mais, e se você sabe lê-lo, tudo muda”, garantiu.

Ler pessoas e detectar padrões segundo Salsberg

O que faz a sua história ser especial é como ele conecta dois mundos que, à primeira vista, parecem opostos. Em ambos, disse, trata-se de contar histórias coerentes. Em Hollywood, um roteiro deve ter sentido. No poker, uma linha de aposta também deve ter. Se algo não se encaixa, você tem que desconfiar. Essa atenção aos detalhes o levou a desenvolver uma espécie de radar narrativo que hoje ele aplica nas mesas, onde até já adivinhou com precisão as duas cartas dos seus rivais.

Essa mesma capacidade de observação também permite que ele se adapte com rapidez ao ambiente das mesas, algo que atribui à experiência pelas salas de redação, onde ele provavelmente viveu com diferentes egos e estilos. “Hollywood é muito político e muito ‘cliquey’. Você aprende rapidamente a não fazer o que não deve. Isso me ajudou a ler perfis e ajustar minha atuação, ao que o poker também se traduz em saber quando pressionar e quando ceder”, comentou.

Matt Salsberg em uma mesa de poker.

Outro grande valor que conquistou em Hollywood foi a resiliência. “No poker, você aprende a perder. Em Hollywood, a ser rejeitado”, resumiu. Depois de anos lidando com projetos cancelados, ideias negadas e portas fechadas, Salsberg chegou ao poker já treinado emocionalmente para o fracasso. Mesmo assim, admite que há mãos que doem e momentos nos quais é impossível manter a compostura.

No podcast, Salsberg também compartilhou algumas dessas experiências. Quando, no WPT Thunder Valley, ele voltou das cinzas com apenas três blinds até chegar entre os últimos 10 jogadores. Mas, em um spot chave, seu top two pair caiu para um flush runner-runner. “Perdi a cabeça por um momento. Não acontece com frequência, mas aquela mesa final significava muito para mim”, confessou. Neste mesmo torneio, ele terminou em sétimo depois de outra mão dolorosa. Não era a primeira vez: ele também lembrou sua eliminação no WPT Venice 2013, quando precisava ficar em sexto para liderar o ranking do Jogador do Ano. Formou um set no small blind, apostou três rodadas e viu o chip leader completar seu draw no river, eliminando-o. “Virei a mesa. Lamentei a postura de imediato, mas muito estava em jogo”, lembrou.

Hoje, Salsberg segue combinando suas duas paixões. Ainda trabalha escrevendo roteiros e projetos criativos, embora reconheça que Hollywood esteja em crise. “Vender uma série hoje é como ganhar o Main Event”, brincou. Por isso, cada deep run em um torneio não apenas representa um prêmio: representa liberdade, independência e uma vitória pessoal contra um mundo cheio de recusas.

Sua história demonstra que o poker não se aprende apenas com solver e volume, mas também nos lugares mais inesperados: uma sala de escritores, uma sessão de brainstorming ou uma conversa com produtores. E que, às vezes, para ler bem um flop, primeiro precisamos aprender a ler as pessoas.

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